
Sociólogo.
Lúcio Carril
UM RASTRO DE SANGUE, INCOMPETÊNCIA E CORRUPÇÃO
A extrema direita se divide em dois segmentos fundamentais. Tem uma massa de ignorantes, que não sabe o que é uma ditadura, e uma turba de malfeitores, que sabe o que foi a ditadura militar e vê nela possibilidade de eliminação do outro e de ganhos desonestos sem punição.
Vejamos os indicadores que mostram a tragédia política, social e econômica da ditadura militar.
Em 1984, a inflação era de 223%.
A dívida externa saltou de 3,6 bilhões em 1964 para 93 bilhões em 1984.
O analfabetismo entre pessoas de 10 a 14 anos era de 19% em 1983.
A educação e a cultura eram engessadas pela famigerada Lei de Segurança Nacional, levando o ensino a um processo cruel de distanciamento da realidade e as escolas ao sucateamento.
A corrupção aumentou e escândalos como da Coroa/Brastel e da Transamazônica se tornaram conhecidos da população, mesmo com a imprensa censurada.
Não menos escandalosos foram os atentados terroristas no Riocentro e na sede da OAB, matando dona Lídia, servidora da Ordem, e os militares terroristas.
Centenas de brasileiros foram torturados, mortos e sequelados nos porões da ditadura. Figura como Brilhante Ustra, herói do traste inelegível, empregava os métodos mais cruéis de tortura, massacrando mulheres e até mesmo crianças.
Em resumo: só uma mente perversa, que odeia o Brasil e a democracia, é capaz de defender um período tão trágico e desumano.
Aproveito para dizer que nada justifica o apoio ou a defesa da ditadura militar. Nem mesmo os ignorantes de plantão têm esse direito.
Negar a tortura e os crimes militares é tão nefasto quanto os atos em si. Ignorância não pode ser sinônimo de perversidade.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 01.04.2025
PLÍNIO VALÉRIO E A VIOLÊNCIA CONSTRUÍDA
O que leva um homem a sentir o desejo de enforcar uma mulher que não lhe oferece qualquer perigo? Seria esse desejo macabro um sinal de psicopatia?
Não sou psicólogo nem psiquiatra, mas a sociologia me permite fazer uma imersão na história para tentar entender o comportamento violento do indivíduo na sociedade, fundamentalmente aquela conduta desagregadora e sem empatia.
Na antiguidade, indivíduos com condutas agressivas e profanas eram considerados possuídos pelo demônio. Assim, sua cura poderia ser alcançada pelo exorcismo. Foi a partir do século XIX que estudiosos da medicina passaram a entender a crueldade não como loucura, mas como perturbação mental caracterizada por padrões comportamentais e afetivos.
Feita essa contextualização científica, não me permito entrar no campo da psiquiatria. Passo a tratar da visão sociológica sobre a violência ou o desejo revelado de esganar um opositor político.
O senador Plínio Valério não se tornou um facínora de uma hora pra outra. Ele tem lastro. Primeiro, é filho da oligarquia latifundiária do Alto Juruá, no Amazonas, aquele segmento social e econômico que construiu seu poder oprimindo o caboclo, tomando suas terras e sugando seu sangue. Ele cresceu nesse ambiente de violência.
Já crescido, foi da juventude da ARENA, partido de sustentação da ditadura militar. Ou seja, Plínio nunca defendeu a democracia e foi um agente do autoritarismo.
Em tempos recentes, foi eleito senador, na onda fascista que tomou conta do Brasil por quatro anos e ainda resiste sob o manto de tudo que não presta. Viu na ascensão da extrema direita uma nova oportunidade de um Brasil mergulhado no obscurantismo. Novamente, abraçou esse projeto, porque tem uma história de vida impregnada pela violência.
Ter vontade de enforcar uma mulher negra, fisicamente frágil, defensora da natureza não se trata de um deslize do discurso, mas de uma conduta. Plínio apoiou a ditadura militar, logo apoiou a tortura, as prisões ilegais, os assassinatos cometidos pelo regime. Quando viu Bolsonaro defender o sádico Brilhante Ustra, se regozijou.
Em resumo, Plínio Valério não é um psicopata. Pode até mesmo apresentar alguns sintomas do transtorno, mas sua violência foi construída no ódio de classe, na opressão dos mais fracos, no desejo macabro de matar, enforcar, bater, humilhar. Ele, Bolsonaro e outros tantos são da mesma laia e representam uma ameaça permanente à civilização.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 23.03.2025
A MALDADE ALÉM DO BEM E DO MAL
A humanidade não se divide entre o bem e o mal. Este maniqueísmo tem sua origem na religião, apesar do sentimento ser anterior; mas só se estrutura a partir da ideia de deus e diabo como entidades metafísicas determinantes nas condutas humanas.
O bem já serviu, e ainda serve, à prática do mal. Saquear, matar, mentir, enganar já foram feitos em nome de um bem superior. A igreja católica que o diga. Hoje, o evangelismo cristão é a nova doutrina objeto da manipulação defraudada.
Fora das estruturas religiosas, ou além delas, o indivíduo vem se refestelando com suas maldades. O faz, também, em nome do bem. Mas aí repousa uma iniquidade mais perigosa, pois não tem foco no poder, como o faz a religião, e sim na formação de um caráter desviante, sórdido e abominável.
Ele defende a vingança, por exemplo, como sentimento e prática aceitáveis socialmente. Defende a morte não como parte de um ciclo natural da vida, mas como solução de um ou vários problemas. Olha o outro com um preconceito dizimador: não se contenta com a exclusão; quer seu extermínio físico.
Este indivíduo superou a ideia do bem e do mal ao eliminar a linha que os separavam. Ele não quer saber se está fazendo o bem ou o mal. Basta para ele a satisfação pessoal de superioridade do seu pensamento. É uma nova prova inconteste que a humanidade guarda surpresas que transpõem velhas estruturas.
O problema é que essa superação é a da volta às trevas ou a criação de uma nova escuridão.
Um autoritarismo intrínseco, construído por uma cultura autoritária que remonta os primórdios da história, envolvendo suas mais diversas formas de dominação, vem caracterizando novos indivíduos, suas personalidades e seus caracteres.
O autoritarismo exacerbado não está no campo maniqueísta do bem e do mal. Ele está além e só quer saber do seu triunfo enquanto forma e prática dominantes.
É nesta perspectiva que encontramos nas esquinas, becos e vielas indivíduos defendendo a pena de morte, o racismo, o preconceito, a opressão da mulher pelo homem e outras atrocidades.
É claro que algumas estruturas dominantes, como doutrinas religiosas, políticas e filosóficas reforçam esse espírito dizimador, mas o que me amedronta é seu caráter autônomo: o indivíduo passou a ser sozinho uma estrutura de opressão.
Como resistir a isto? somente a partir de uma prática inversa, onde a democracia e a justiça se tornem bens culturais e humanísticos.
Não precisamos do bem e do mal, mas de valores que ajudem a construir uma nova humanidade, fundada no respeito ao outro, na solidariedade e no amor.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 14.03.2025
AINDA ESTOU AQUI
Nestes primeiros meses de 2025, completo 45 anos de militância política e social.
Eu ainda era um garoto de 14 anos quando a moçada do Diretório Universitário da Universidade do Amazonas, hoje DCE da UFAM, foi à minha escola, Nossa Senhora das Graças, no Beco do Macedo, convidar para uma reunião de mobilização da campanha pela meia passagem.
Pronto. A partir daquela primeira reunião nunca mais larguei da luta social. Entrei para o Partido Comunista Brasileiro, PCB, e ali iniciei minha formação política.
Ainda perdurava a ditadura militar, com início da abertura, anistia, volta dos exilados e direito de organização. Surgia o Partido dos Trabalhadores e a luta pela democracia era intensa, com a retomada dos sindicatos sob intervenção do Estado e/ou sob o domínio de dirigentes pelegos.
Em 1981, na luta pelo Passe Único, a polícia da ditadura, no governo José Lindoso, reprimiu violentamente nossa manifestação na Praça São Sebastião, invadiu o templo católico, onde nos refugiamos, e nos espancou sem dó. Ainda um garoto de 15 anos e com muitos outros e outras da minha idade fomos levados para a DOPS e ali submetidos a agressões e humilhação.
A luta nunca foi fácil.
Outras prisões vieram.
Fiz parte da comissão de reconstrução da UESA e me tornei líder estudantil secundarista. Fui coordenador da Juventude Comunista do Partidão por muitos anos. Participei de associação, comunitária, sendo fundador do Bairro Tancredo Neves. Estive presente em todas as lutas pela redemocratização do país aqui em Manaus.
Na campanha pelas eleições diretas, ainda com 18/19 anos, dircursei no ato histórico na Praça do Congresso, representando o ainda ilegal PCB, ao lado de Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Dante de Oliveira, Tancredo Neves e outros políticos nacionais.
Foram muitas as lutas. Aos 59 anos, me orgulho do que o movimento social me transformou. Nunca fiz do conhecimento um instrumento divorciado da minha construção como ser humano. Se defendo a revolução, é de amor, de paixão, de solidariedade, de fraternidade e de igualdade que estou falando e esses valores devem fazer parte da minha vida. Foi e será sempre assim.
Muitos companheiros foram ficando na caminhada. Alguns partiram definitivamente da vida e outros pularam para o outro lado. Mas continuo aqui, vivo, romântico, utópico e sem abrir um centímetro dos meus sonhos por uma sociedade justa e igualitária.
Muitos companheiros continuam vivos, e na luta. São meus camaradas, irmãos e irmãs de coração. Como dizia Neruda, formamos uma boa família, temos a pele curtida e o coração moderado.
A luta social me fez mais humano. Minha lágrimas continuam presentes, derramadas pela alegria ou pela indignação. Nunca pensei em me resignar a nada. É da luta que estou falando. É da luta por um mundo melhor que me alimento todos os dias.
Quando eu já tinha como certo que o Brasil não mais correria o risco de um retrocesso político, o fascismo chegou novamente ameaçando a democracia. Derrotamos o fascismo e garantimos a democracia. No entanto, a ameaça persiste. Ou seja, a luta sempre será necessária e enquanto eu estiver vivo, meu braço erguido nas ruas, a tinta implacável saída das minhas mãos e minha voz continuarão servindo ao sonho de todos e todas que lutam por justiça social.
Obrigado aos meus companheiros e companheiras que tanto me ensinaram e continuam me ensinando a ser melhor. Seus braços entrelaçados aos meus servem de oxigênio para respirar e para continuar lutando.
Como dizia Nestor Nascimento, A LUTA CONTINUA.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 09.03.2025
A RAZÃO DA PRIMAVERA
É verdade, sou um romântico. E não pretendo abrir mão disso que considero uma qualidade humana.
Escrevo em resposta àqueles que pensam estar desqualificando meu discurso me chamando de romântico.
O fazem tendo como medida a velha ideia do domínio absoluto da razão, esta senhora dizimadora de sonhos e beleza humana.
Cresci ouvindo essa conversa de que devemos nos instrumentalizar da racionalidade para acertar as coisas; que está na razão o recurso da verdade e o aproveitamento da experiência. E que tudo que fugir ao raciocínio lógico é temerário e de consequência duvidosa.
Aí fui crescendo e procurando dialogar com as várias razões que nos cercam. Na ciência, desfiz minhas crenças religiosas. Na filosofia, vi a força do ethos. Na religião, descobri a positividade dos dogmas. E mesmo no senso comum extraí algum tipo de razão instrumental.
Quando achei que tinha descoberto uma forma de entender e mudar o mundo descobri que todas as razões, e até mesmo a mais soberba delas, foram e são as responsáveis pela construção do mundo que temos, desamparado de ternura e de romantismo.
A razão não só profanou mentes e convicções, como destruiu possiblidades de diálogo com valores humanos imprescindíveis para edificação de uma humanidade desenvolvida e plena.
Foi com a razão que se fizeram duas guerras mundiais e no seu berço se viu a opressão persistir. Foi na razão que a bomba atômica caiu sobre Hiroshima e Nagasaki. Foi em nome da razão que a opressão do capital prosperou, arrancando a carne de idosos e crianças.
Não. Não é essa a razão que um dia iluminou pensadores e chegou a nutrir a esperança de um mundo mais fraterno.
Sigo romântico, sim, com muito orgulho e vontade de mudança, mas não me venha dizer que a razão que você defende nos fez melhor ou socializou bens e qualidade de vida.
Se houver uma razão de vida e esperança, que ela seja a da primavera.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 03.03.2025
O PROCESSO DE ELEIÇÕES DIRETAS DO PT
Sei que o PT dá um nó na cabeça de muita gente. É difícil compreender um partido tão diverso de ideias e gente com perfil diferenciado diante da história da esquerda no mundo, protagonizada pelos partidos comunistas com orientação dominada pelo pensamento marxista-leninista.
O PT é hoje o que, mais ou menos, preconizava o Partido Comunista Italiano, que defendia uma organização heterodoxa, com muito pluralismo de ideias e unidade de ação, o que ficou conhecido como unidade na diversidade. O PCI logo foi acusado de querer criar um "eurocomunismo" ou um pensamento fora do dogmatismo dominante.
Décadas depois desse debate, aqui no Brasil, um país com pouca história democrática e vivendo sob uma ditadura, foi criado o Partido dos Trabalhadores, com uma estrela como símbolo e não uma foice e um martelo. 45 anos passados e o PT está governando o país pela quinta vez.
Pois não é que os eurocomunistas estavam certos, inclusive naquilo que defendiam como transição democrática e hegemonia da sociedade civil.
Estamos longe da hegemonia, mas o PT se tornou um dos maiores partidos de esquerda do mundo. É um projeto político de partido que deu certo, com um vasto espectro de pensamento, inclusive ideológico, que inclui na sua composição segmentos sociais diferenciados, mas representativos da sociedade.
O PT E O PED
É esse partido que dia 6 de julho deste ano realizará eleições diretas entre seus 1,7 milhão de filiados, para eleger todos seus dirigentes, em todo o país.
O PED - Processo de Eleições Diretas do PT foi aprovado no seu 2⁰ Congresso, em 1999, e em 2001 foi posto em prática, mobilizando centenas de milhares de filiados e militantes. Antes disso, as eleições eram colegiadas, em encontros com delegados eleitos em instâncias partidárias.
Em 2005, quando os opositores do PT diziam que o partido ia acabar, 315 mil filiados e filiadas votaram no PED. Em 2013, depois das manifestações de junho, que emparedaram o governo Dilma, foram 420 mil votantes.
O Processo de Eleições Diretas do PT se tornou um projeto ousado de mobilização e de participação dos seus filiados e um modelo único no mundo, dentre os partidos de massa. Representou o rompimento com o método tradicional de eleição e incorporou milhares de militantes e filiados na definição do partido como organização política estratégica.
Ainda tem falhas no processo, obviamente, mas sua implementação é fundamental para o crescimento e a consolidação do PT como partido de massa e alternativa de poder popular. As eleições do partido, além de diretas, têm critérios de participação. Tem paridade de gênero, tem cotas e a disputa proporciona um momento de debate sobre concepções políticas.
O diretório nacional do PT tomou a decisão acertada em garantir eleições diretas em todos os níveis para o partido. O PED tinha sofrido alteração há alguns anos e somente as direções municipais eram eleitas pelo voto direito dos seus filiados e filiadas. Dia 17 de fevereiro passado, por ampla maioria, os dirigentes aprovaram a volta do PED em seu formato original.
O PT dá um grande exemplo para o Brasil e para o mundo, ao valorizar o voto universal. O PED, por essência, é inovador e inclusivo.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 21.02.2025
O PROBLEMA DA COMUNICAÇÃO DO GOVERNO LULA
Desde o início do governo Lula que sua base de apoio - a esquerda e setores progressistas - externa descontentamento com a falta de divulgação das ações do governo e/ou como vem se dando a sua forma de se comunicar com a população.
Pegaram o Paulo Pimenta, ex- titular da Secretaria de Comunicação, para Judas, ou para pato, lhe atribuindo ineficiência e, até mesmo, incompetência. No seu lugar foi colocado o marqueteiro da campanha do Lula em 2022, Sidônio Palmeira.
No ofício de sociólogo, não acho correto atribuir um problema grande a uma pessoa ou mesmo a um grupo, quando este é a parte de um todo mais complexo. É possível até melhorar a ação mexendo numa peça ou noutra, mas o problema persistirá.
No meu singelo entendimento o governo tem um problema de gestão e não de comunicação.
O governo federal tem hoje cerca de 28 mil cargos comissionados, distribuídos por todo território nacional e fora do país. Diferentemente dos governos passados do Lula, esse exército de confiança tem pouca mobilidade, sem recursos para viagens e diárias.
Esses agentes públicos ficam de mãos atadas e pernas acorrentadas nas sedes dos seus órgãos, ou seja, nas capitais, sem poder se articular com o público-alvo das suas ações. Tem muito dirigente de órgão que viaja a trabalho com combustível pago do seu bolso ou no seu próprio carro.
Sem a mobilidade do gestor público, as ações do governo federal que chegam aos municípios são apropriadas pelo prefeito e pelo governador. Essa ausência também facilita as notícias falsas, geralmente disseminadas pela oposição, muito eficiente nessa conduta.
Outro problema de comunicação, causado pela falta de gestão, é a ineficiência dos ministérios. Seus ministros não têm criatividade e parecem desconhecer a capilaridade das suas pastas. É muita política e pouca ação. Esse povo do centrão é um atraso para qualquer administração e os gestores de esquerda também não ajudam. Falta ousadia, criatividade, vontade de caminhar.
Outro fator que está amarrando a gestão de ponta do governo Lula é a impossibilidade do dirigente de nomear seu staff, sua equipe, ficando refém dos funcionários da casa, que cumprem sua carga horária e tchau. Fico imaginando eu dirigir uma instituição e não poder levar comigo meu chefe de gabinete, meu diretor financeiro, meus assessores. É melhor nem aceitar uma bomba dessa.
Diante dessa realidade, pode colocar o melhor de todos os marqueteiros ou o melhor dos profissionais de comunicação que o governo continuará com dificuldade de fazer chegar suas ações como suas ações até à população.
Por fim, como se não bastassem tantas amarras, o gestor federal nos estados não tem sequer um jornalista para divulgar suas ações e toda e qualquer divulgação tem que passar por Brasília. Ou seja, você mesmo escreve um release, manda para a secretaria de comunicação e depois de um mês tem autorização para divulgar. Aí já viu, né.
E agora por fim mesmo, a Secretaria de Comunicação do governo Lula tem que trabalhar com as mídias regionais. É ela que chega na ponta. Ficar jogando fortunas para a Globo, CNN, Band e SBT não ajuda muito. Essa cambada é do mal.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 16.02.2025
O PT EM MANAUS E A DERROTA DA DIALÉTICA
Quando pensei nesse título, lembrei da tese de Leandro Konder, posteriormente transformada em livro.
Nele, o filósofo marxista indica as limitações que recepcionaram as ideias de Marx no Brasil, como a influência anarquista, o próprio stalinismo e a iniciante formação de uma classe operária.
Mas quem sou eu para tentar desvendar a negação da dialética que o PT assumiu em Manaus e suas peripécias pelo mundo distópico. Quero apenas indicar alguns problemas conjunturais.
O PT realiza desde 2001 o PED - Processo de Eleições Diretas, como resolução do seu II Congresso, ocorrido em novembro de 1999. No PED, todas as direções do partido são eleitas pelo voto dos seus filiados com mais de um ano de filiação.
Vejamos um pequeno trecho da resolução do II Congresso.
"Eleições diretas para presidente e direções partidárias em todos os níveis, a partir do ano de 2001.
... Em todas as instâncias partidárias deve ser desenvolvido intenso debate
político durante os 30 dias que antecedem as datas dessas votações. Os Encontros e Congressos devem ser precedidos obrigatoriamente de atividades político- culturais; debates, seminários e conferências, publicitadas e abertas a todos."
Pois bem. Este ano teremos as eleições para eleger todos os dirigentes do PT, de Uarini à grande São Paulo, de Eirunepé a Belo Horizonte. Será dia 6 de julho, com cerca de 1,7 milhão de filiados aptos a votar.
Aqui em Manaus, o processo tem seguido por caminho desviante.
O PED foi criado como mecanismo de mobilização e fortalecimento do PT. Por sinal, é o único grande partido no mundo que elege seus dirigentes pelo voto direto dos filiados.
Acontece que aquela resolução congressual, que criou o programa, falava em intensos debates, seminários, atividades políticos-culturais, conferências, que deveriam preceder as eleições.
Isso tudo como parte do processo de fortalecimento do partido.
O PED é um processo interno do PT. Nele deve ser debatido o partido, suas táticas e estratégias, tudo de acordo com as normas estabelecidas.
Aqui em Manaus, esse processo dialético foi derrotado antes das eleições e sem qualquer causa objetiva, como aquelas apresentadas por Leandro Konder.
O PED foi atirado na rua pela janela do partido e caiu no colo da direita, da extrema direita e dos inimigos do PT. O que era pra ser interno virou notícia negativa na mídia corporativa, nas tintas borradas de blogueiros e nas línguas necrosadas de influenciadores.
As disputas internas no partido saíram do ambiente interno, do debate de ideias, do conflito que faz crescer, para aporrinhar o povo e a sociedade manauara, logo essa gente que tanto precisa de política e não de baixaria.
Sim, a dialética está derrotada diante de dirigentes que não reconhecem a importância do conflito no processo de construção e o transformam em instrumento de autodestruição.
Concluo sugerindo que militantes e dirigentes tragam o PED de volta para o ambiente interno do partido e dele façam um momento de reflexão sobre o PT, tracem táticas e estratégias para superar dificuldades.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 25.01.2025
MINHA CASA MINHA VIDA, MORADIA SEGURA PARA QUEM PRECISA, JÁ
Moro no bairro da redenção, em Manaus, onde houve na madrugada de domingo, 19, um desbarrancamento que matou duas pessoas - pai e sua filhinha de 8 anos.
Redenção tem cerca de 4 mil casas, muitas delas em área de risco. O bairro todo tem acidentes geográficos, ou seja, tem um relevo diferenciado, com muitos barrancos e baixadas.
Mas foi aqui que milhares de famílias encontraram um lote para construir suas casas, desde a década de 1970, quando o bairro foi fundado.
A tragédia ocorrida, com duas mortes e outros feridos, foi anunciada. Infelizmente, outras virão, não só aqui, mas noutros bairros, já que Manaus é a capital do Brasil com mais áreas de risco.
Sugiro à prefeitura de Manaus que priorize no Programa Minha Casa Minha Vida essas famílias que moram em áreas inseguras.
Tem muita gente "sorteada" no programa que não precisa. Mora dois meses e aluga ou vende.
É preciso ter mais critério nesse "sorteio".
As famílias que moram em áreas de risco devem ter prioridade, sem necessidade de sorteio. A condição de vida delas corresponde ao objetivo do Programa.
Se o prefeito David Almeida, no final desse mandato que iniciou agora, conseguir dar segurança de moradia para nossa gente que mora em locais insalubres e de risco, terá feito a grande obra social da sua gestão.
Vamos lá, prefeito. Faça um esforço e pense naqueles que precisam. As moradias do Minha Casa Minha Vida já estão em construção e outras serão construídas com recursos federais.
Tem dinheiro, dá pra fazer.
Ninguém está precisando de parque de concreto. Nosso povo precisa de casas de concreto em áreas seguras.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 21.01.2025
ZUCKERBERG, O VILÃO DA INFÂMIA E DO ÓDIO
Zukcerberg não é apenas o senhor das big techs do século XXI. Ele é um Lord Voldemort à procura de destruir a verdade.
Na semana passada, Mark Zuckerberg anunciou como nova política da sua empresa, a Meta, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, o encerramento do programa de verificação de notícias falsas e a redução do controle contra discurso de ódio.
Com essa medida, passa a formar dupla com Elon Musk, o bilionário infame que acha que é o Coringa, e se alia ao recém-condenado e eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A turma de vilões está formada.
Tudo poderia parecer um filme de aventura ou ficção, com personagens satíricos, pueris e admirados por milhões de espectadores, se não fosse real e ameaçador.
As redes sociais tomaram conta da vida dos indivíduos, em razão da necessidade humana de comunicação. Com elas, a comunicação tirou o interlocutor da condição de passividade e passou a ser sujeito ativo, em diálogos reais, seja com outro indivíduo ou com um robô, criado e programado por outro indivíduo.
Não é possível voltar atrás nessa relação dinâmica, mas é preciso ter um controle sobre sua política.
Permitir que as big techs determinem que as redes sociais sejam espaços virtuais de promoção de ódio, crimes e mentiras é decretar o fim do processo civilizatório e a instauração de uma nova barbárie, com o uso da Inteligência Artificial.
A infâmia que regula o caráter dos Lord Voldemort das big techs e seus comensais da morte de extrema direita não pode se tornar uma política de domínio das redes sociais e da comunicação de massa. Isso seria o fim do pouco de respeito e tolerância que a humanidade construiu.
O que está em jogo não é a liberdade de expressão, mas o fim dela, com o domínio absoluto de meia-dúzia de bilionários metidos a Lex Luthor. A liberdade de expressão é um valor da democracia e não espaço de promoção do terror e da desinformação.
Permitir a mentira, a disseminação do ódio e a propaganda a favor do crime para aumentar engajamento e o capital da sua empresa revela o risco que a ganância dos donos das big techs representa para a humanidade.
No Brasil, a extrema direita vem impedindo a tramitação do marco regulatório da internet no Congresso Nacional, pois é das fake news que ela vive e engana o povo brasileiro, mas a sociedade civil precisa se mobilizar e garantir a liberdade de expressão como valor da democracia e não do capital.
Lúcio Carril
Sociólogo
Artigo Publicado em 15.01.2025
OS AMANTES E AS AMANTES NA LITERATURA, NA HISTÓRIA E NA HIPOCRISIA
As amantes agora foram tiradas do seu sossego milenar pelas reações de algumas almas puras à fala do presidente Lula, que usou como exemplo essas personagens da história e da literatura universal para falar do seu amor pela democracia.
O olhar moralista, e sempre hipócrita, deforma toda realidade, lhe tirando beleza, poesia e inteligência. Consegue ver erro até mesmo naquele que ama.
Mas o que seria da literatura sem uma Anna Keriênina e sua paixão proibida pelo conde Vrónski, personagens de Liev Tolstói, cuja obra trata de drama familiar, casamento e a decadência da aristocracia russa na segunda metade do século XIX.
No mesmo período histórico, Flaubert inquietou a sociedade parisiense com Madame Bovary, o que lhe rendeu um processo por ofensa à moral e à religião. A infeliz Emma não via possibilidades de vida no seu casamento e procura nos amantes o afago não encontrado no marido.
Na sua defesa perante o tribunal, a frase famosa do escritor realista: Emma Bovary c'est moi" (Emma Bovary sou eu).
Todos nós somos um pouco Emma Bovary, nem sempre nas possibilidades de um outro amor, mas na busca pela felicidade romantizada na literatura, que tanto alimentou seus sonhos.
A literatura nunca virou as costas para a realidade, bem diferente das instituições morais e religiosas, sempre alertas para a defesa dos bons costumes, apesar das suas práticas inconfessáveis.
E foi assim que Machado de Assis nos apresentou Capitu e as dúvidas de Bentinho, compartilhadas por nós, leitores, até hoje.
A vida continua seguindo e nossos encontros com a história também não são furtivos, como aquele e aquela amante revelados nos belos romances.
Frida Kahlo e Trotsky se tornaram amantes.
William Shakespeare e o figurinista William Hart foram apaixonados, mesmo com o autor casado com a atriz Anne Hathaway, com quem teve um filho.
Rainha Victoria e a Princesa Diana não foram as únicas realezas a ficarem famosas. Seus amantes também viraram personagens históricos.
Barbara Villiers se tornou, em 1660, amante do rei Carlos II de Inglaterra e teve destacada atuação no seu reinado, fazendo parte do Conselho Real.
Agnés Sorel saiu de dama de companhia da esposa de Carlos VII para ser sua amante, em 1444. Tiveram três filhas.
Madame de Pompadour encantou Luís XV, que nomeou o marido da amante embaixador nos cafundós do judas.
E assim literatura e história foram se encontrando em castelos, bailes, cidades e vilas, revelando ao mundo que o impossível existe fora dos lençóis da hipocrisia e do falso purismo.
Tanto na literatura como na história, homens e mulheres escolheram uma vida além do casamento. Isso é real. Ainda que alguns insistam em defender apenas vida depois da morte, o que é improvável.
O presidente Lula apenas viajou no tempo da história e da literatura ao colocar no seu discurso uma personagem presente nos belos dramas e romances da vida.
Lúcio Carril
Sociólogo.
Artigo Publicado em 10.01.2025
DEPOIS DE FINACIAR A TENTATIVA DE GOLPE, O AGRO TENTA AGORA O RIDÍCULO
Depois de Bolsonaro, se tornou comum gente envolvida com a polícia falar em disputar eleição. Claro, essa laia está sempre à procura de um jeito para se livrar da cadeia ou da publicidade negativa.
Não causou estranheza quando nesta semana o cantor sertanejo Gusttavo Lima disse que pretende ser candidato a presidente da república. Nada mais comum, depois de um Pablo Marçal e outros da corja, espalhados pelo país.
Gusttavo Lima tem protagonizado a mídia nacional não somente pela sua música de baixo sentimento, mas pelo seu envolvimento com o crime organizado, o que lhe resultou em dois indiciamentos por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Sua ligação nefasta com o que é errado não se limita ao crime organizado. Ele tem ligações profundas com o agronegócio brasileiro.
Seguindo a linha do seu guru político, Bolsonaro, declarou de no dia de ontem, 03, que " o Agro não aguenta mais pagar impostos". Uma mentira deslavada.
O Agro brasileiro tem subsídio anual de 400 bilhões de reais e ainda financia bancadas de deputados e senadores para ampliar esse benefício nada patriótico.
O agronegócio brasileiro atua de forma criminosa contra o meio ambiente e despeja sobre a cabeça de crianças, jovens e idosos toneladas de venenos agrícolas, lhes causando câncer e outras doenças letais.
Gusttavo Lima é mais um dos seus fantoches para protagonizar o noticiário nacional com a defesa dos seus interesses. O cantor se serve a isso porque também precisa esconder seus crimes.
Essa junção da música de baixo sentimento com o agronegócio é uma ação planejada. Não é de hoje que ruralistas bancam cantores de um pseudo sertanejo para tecer loas à sua cultura de destruição ambiental sob o manto da grande produção de alimentos e geração de riqueza.
Esse ritmo musical que Gusttavo Lima representa não tem lastro no sertanejo raiz do Brasil, nascido da cultura dos nossos povos tradicionais. Ele foi criado em estúdios financiados pelos mesmos ruralistas que financiaram a tentativa de golpe de Estado, recentemente.
Esta união é a do crime e tem como meta tirar o Brasil do caminho da democracia e do crescimento. O agronegócio não conseguiu dar o golpe e agora mete nosso país no ridículo ao lançar um indivíduo totalmente desqualificado e envilvido com o crime para disputar a presidência da república. Não passarão.
Lúcio Carril
Sociólogo.
Artigo Publicado em 06.01.2025